Quem desce a Rua de Santana, se olhar com muita atenção, arrisca-se a ver do seu lado direito, na margem esquerda do rio que por ali desliza, pedras graníticas que irrompem da terra, podendo-se deixar seduzir pelo som aquático que o preencherá de recordações melancólicas. Satã, que por ali vive, abre as suas asas e voa. Rodopia por aquela antiga planície, outrora quente e seca, agora campo de relva verde, terra de pasto e pradaria. Pequenos insetos saem de suas tocas em busca de refúgio na sombra, reclamando aquelas como as suas terras. Vestígios de pequenas escaramuças aparecem aqui e além, prova de espantosas batalhas travadas ao nível do solo. Ninguém mais por ali vive.
Quando chove, o rio cresce alagando tudo em seu redor. O choro divino devasta o ex-deserto. Os animais terrestres desaparecem na boca dos peixes que saltam de debaixo de água devorando tudo o que se mexe. Satã senta-se no tronco da única árvore que ali se encontra, e atirando a coroa da sua cabeça ao rio, estanca o seu caudal, apoderando-se assim do seu reinado. O rio pára azul. A terra inexistente é reflexo do céu. Ordena-se que se faça Sol! Destas palavras nasce uma estrela que apaga todas as outras.
É dia. O rio seca. Dos peixes, quebradiças espinhas restam, continuando a cadeia alimentar. O trono de madeira é pau ardido, pó. Surge um grande vazio, um vómito infinito. Com este aparecem rios, plantas e animais.
A quem desce aquela rua, que lhe preste um bocado de atenção.
É dia. O rio seca. Dos peixes, quebradiças espinhas restam, continuando a cadeia alimentar. O trono de madeira é pau ardido, pó. Surge um grande vazio, um vómito infinito. Com este aparecem rios, plantas e animais.
A quem desce aquela rua, que lhe preste um bocado de atenção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário