domingo, 14 de abril de 2013

     Os pássaros cantam enxutos da chuva que não parou de cair nos últimos dias.

    A Primavera chegou. As azedas desabrocham e pintalgam descampados. Bandos de betos invadem a praia de Carcavelos. Fazem fila à porta da Capricciosa. Outros almoçam nas esplanadas do paredão. Os miúdos fogem-lhes da mão e as mães gritam atrás deles que se confundem uns com os outros.  Os pais lavam-se nos chuveiros do paredão.  Há surfistas seminús nos parques de estacionamento.  Surfistas betos que se limpam alheios aos filhos que fogem das mães rindo. Os pássaros cantam enxutos da chuva que não parou de cair nos últimos dias e que parecia nunca mais acabar.
     Em Portugal os Invernos são curtos. Tanto a chuva como o frio concentram-se em poucos meses. Este ano o Inverno teve uma reta final intensa mas tal como começou assim acabou. Desapareceu como apareceu. Os anos de seca não nos deixavam lembrar da rapidez das coisas e andava tudo muito preocupado com umas pingas na cabeça.A crise politica e económica fez-nos ficar ainda mais deprimidos que o usual. As cabeças andavam baixas, preocupadas com a agricultura quase inexistente no país.  A industria também é decadente. Há que importar produtos de fora porque aqui não os há.  A dependência ao exterior é tal que até o dinheiro tem de vir de fora. Passados anos de insistência numa comunidade onde só alguns países se autorizavam produzir, lembraram-se que o dinheiro não nasce do nada e que se nos querem país consumidor da porcaria deles temos que ter capital próprio. Deram-nos juros crescentes para que fosse possível recapitalizar a banca, que já lá tinha o dinheiro de todos nós e, por isso (o resto da frase é o contrário do que está lá escrito, é irónica) precisava de ainda mais.  Burlões que levaram o dinheiro de debaixo dos colchões de gente nova e velha dizendo que era mais seguro. 
     As azedas dão saudades de as chupar. Elas crescem despreocupadas e abundantes porque já ninguém o faz. Haveria alguém de as chupar e dizer se sabem ao antigamente. Agora chamam-nas de mijonas porque há quem mije em cima delas e acham nojento. Antigamente também as chamavam assim mas ninguém estava preocupado com o mijo que desce quente da nossa pila limpando-nos das impurezas. Se as azedas soubessem a mijo haveria quem por elas tivesse fetiches do género chuva dourada. Também há fetiches com vómitos, pés e merda, banho romano, podolatria e coprofilia respetivamente. Haverá fetiches tais que só quem os tem sabe que existem, não sendo estes nenhum dos anteriormente referidos. Haverá fetiches com betos? Os betos terão fetiches? Estes betos surfistas tê-los-ão certamente. E muitos os terão com eles. Hão de os ver despirem-se nos parques de estacionamento em Carcavelos.

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