Na máquina fotográfica
vê-se a imagem de seis candeeiros em perspetiva cónica. O último deles está paralelo
à reta de cima da estrutura cor de laranja da linha do comboio na ponte sobre o
tejo. O céu está branco na parte debaixo da ponte mas por cima todo ele é azul
claro. Neste não se vislumbram nuvens nem qualquer outro resquício de humidade.
Está um calor tremendo, custa a respirar. Nas colunas Harmon/Kardon soa uma das
últimas músicas do Atom Earth Mother dos Pink Floyd. Estamos no ano de 2013 do
século XXI e acabou de haver um golpe de estado em Portugal. O Paulo Portas,
bicha ressabiada de tez morena e dentes muito brancos, é Vice-Primeiro Ministro
deste país, cargo por si inventado. Na rua um puto chama pela mãe. Pede-lhe
gelo. O gelo da minha água ficou líquido num instante. Na
imagem, vê-se do lado direito uma parede com janelas altas das fábricas de
Alcantâra. O plano está um pouco inclinado com a parte de cima do edifício mais
saído para fora do que a parte de baixo. À sua frente, os anteriormente
referidos candeeiros em perspetiva cónica rematam o ponto de fuga da imagem. De
noite hão de iluminar transeuntes menos preocupados com a segurança física dos
corpos e objetos nestes dependurados, tais como roupas e outros utensílios
inerentes ao ser humano, animal que de outra forma teria medo de por ali
passar.
As colunas do
computador continuam a tocar Pink Floyd, mas agora Live at Pompeii. Faço mais
um cheiro de cocaína. Os charros estavam-me a deixar sonolento e precisava de
acordar. Consigo ainda fazer um cigarro. As sobras da droga ainda chegam para
isso. Do outro lado do Atlântico pedem-me para resolver um problema com o
roaming. O psicadelismo da música atinge um novo auge. No Youtube, o Roger
Waters tocava sintetizador. Agora mostram o vulcão de Pompeia, por vezes
cortado com imagens da banda a tocar. O Passos Coelho agora está a mando do
CDS/PP. Nas últimas eleições penso que tinham tido pouco mais de 10% de votos,
aparentemente os necessários para governar o país. Assim funciona a nossa
democracia, longe das pessoas, indiferente às necessidades do Povo, a franja da
sociedade inexistente aos olhos dos dirigentes. Os edifícios são mais valiosos
do que as pessoas. Eles permanecem de pé e as pessoas morrem. Eles
sobrevalorizam-se a meus olhos, órgãos pelos quais centenas de Histórias já passaram,
sedentos de felicidade. Nestes últimos tempos, foi um entra e sai tal de
Ministros que já ninguém sabe quem eles são e de que pastas são responsáveis. É
urgentemente necessária a Revolta Popular. Só através desta a escumalha
engravatada dos escritórios poderá ter medo de nós. Cordeiros mansos afogam-se
quando chove e ficam presos dentro das vedações que os protegem. Quando faz calor
como hoje, refugiam-se debaixo de chapéus à beira-mar. Entopem tanto a praia
que não há lugares sentados ou deitados e ficam em pé a olhar uns para os
outros e a jogar com raquetes e a pontapear bolas que se projetam sobre
transeuntes seminús e besuntados de protetor que escorrega pelos braços quando
se dá um mergulho. Águas químicas nos braços do poder, mar que não se agita
sobre o areal. Corpos trabalhados pela ausência de atividade mental, compensada
com exercício físico e outras atividades que mascaram a ignorância do
destrambelho governamental que por aqui vai. Corpos que imagino por cima de
mim, os músculos rijos e definidos na minha mão que desliza por eles abaixo,
sentido todo o vigor da força muscular que me abre as pernas e me penetra ânus
adentro, gemendo de dor e pedindo por mais. Pelo inverso, a pele dos nossos
políticos está sempre encafuada dentro de fatos representativos do seu
trabalho. É um quase suar dentro das suas roupas de Inverno avessas ao desejo ou
a qualquer sentimento de aproximação física ou intelectual dos seus portadores.
Enforquemo-los esganados pelas gravatas que tanto adoram. Arrastemo-los pelo
chão, puxados pelas limusinas conduzidas pelos seus vários motoristas que tanto
dinheiro custam ao Estado. Rapazes na praia revezam-se para me comer. Chupo
pichas tesas na minha boca. Cuspamos na cara do Poder. Façamos Amor por tudo
quanto é lado. As mãos agarradas a rabos rijos pálidos pelos calções que
protegem as parte imundas por onde sai gás, mijo e gotas de esperma que pinga
das uretras dos falos enrugados pelas veias cheias de sangue, o resto são
corpos morenos. A imagem fotográfica permanece a meu lado, entesoado pela
imaginação. A ponte por cima da linha do comboio une os edifícios e permite uma
mais fácil comunicação entre margens. Há sombra na metade inferior do prédio
dos candeeiros. A ausência de luz torna-a preta e possivelmente fresca. Há
pessoas dentro dos carros ocultos pela ponte, ares condicionados que consomem
quase tanta energia como os veículos que as deslocam, asfalto a arder debaixo
de rodas que rolam estrada fora. O zumbir infinito dos carros sobre as grelhas
de refrigeração de metal da ponte.
Do teclado do
computador surge um texto desordenado. O tac tac extinto da máquina de
escrever é substituído pela virtualidade da palavra inexistente num plano não
tecnológico. A tinta pixelizada da atualidade faz-me sonhar com fitas de máquinas antigas
que mascarravam as mãos sujas dos escritores por tanto as puxar para trás. A
imensa Liberdade de um Mundo sem donos não é Utópica. A construção de uma
Sociedade Livre precisa de ser teorizada. Chega de adiar a Emancipação do
Homem. Abaixo a dependencia alarve de uns dos outros. Construamos relações
simbióticas baseadas nas nossas desigualdades, ao invés de propagandear-nos com
uma suposta igualdade nesta tão vasta diversidade. Da imagem já não restam
pormenores para relatar. HQ F4.7 1/400 0.0 WB AUTO ISO 50 22
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